sábado, 2 de fevereiro de 2013

A ANDRAGOGIA ESPIRITUAL

A Andragogia Espiritual
Dalmo Duque dos Santos

Andragogia é a prática educativa iniciática que, desde remotíssimos tempos,
vem sendo utilizada em núcleos filosófico-religiosos. Ela visa, sobretudo, a
formação de agentes multiplicadores (discípulos) de uma determinada doutrina.
A iniciação, como técnica didática, é idêntica no que diz respeito à sua
essência educativa e varia somente nas suas aplicações culturais, sendo
comum tanto nas mais simples práticas primitivas tribais até as mais
sofisticadas instituições sacerdotais. O pagé indígena, o feiticeiro ou curandeiro
tribal, o padre católico, o pastor protestante, o xamã, o bruxo, o mago, o gurú, o
pai-de-santo, a rezadeira ou benzedeira, todos são iniciados em suas
respectivas áreas de conhecimento, obedecendo princípios e regras educativas
necessárias ao exercício de suas funções ou papéis.
Nas civilizações teocráticas da Antiguidade oriental esse tipo de prática
educativa foi predominante porque a camada sacerdotal tinha grande influência
social e política. O sacerdócio era um status diferenciado e altamente
prestigiado nessas sociedades.
A introdução da educação iniciática oriental no mundo ocidental se deu através
do contato da civilização greco-romanos com as culturas do Egito, da índia e
da China. Sábios gregos como Heródoto, Platão e Pitágoras freqüentaram
núcleos iniciáticos orientais. Mas a própria metodologia de ensino de Sócrates
(a maiêutica e a ironia) funciona como um processo de iniciação no qual o
discípulo tinha que romper barreiras e obstáculos para vencer etapas de
aprendizagem. De todos esses sábios do Ocidente, Pitágoras foi o que mais se
destacou nesse setor , criando uma escola iníciática de grande prestígio na
qual se ensinava ao mesmo tempo o conhecimento racional , o fenomenal
exterior (exotérico) e o fenomenal interior ou emocional (esotérico). A
Matemática pitagórica tanto abrange o aspecto racional do universo
(geometria) como o aspec to místico, como a teoria da perfeição numérica
setenária.
Na Idade Média, em plena Era Metafísica, a educação iniciática, voltou a ser
praticada nos círculos de elite, como contestação e alternativa ao monopólio
cultural teológico da Igreja (ordens religiosas em mosteiros e conventos).
Nessas sociedades secretas ocultistas os homens cultos e inquietos se
reuniam para aprender e desenvolver conhecimentos proibidos. A Maçonaria é
um exemplo desses núcleos, cuja origem foi a corporação de ofício dos
pedreiros ou construtores ( do francês “masson” ou fazedor de massa).
Na Renascença essas sociedades secretas se propagaram em função do
relativo clima de liberdade estabelecidos em cidades comerciais e pelas
revoltas contra os abusos de poder do clero católico (Reformas). Nomes famosos como Galileu, Leonardo Da Vinci, Rafael, Miguelangelo foram
iniciados nos mistérios metafísicos dessas escolas esotéricas e deixaram
transparecer em suas obras os reflexos desses conhecimentos.
Com o advento do iluminismo e das Revoluções Liberais as escolas iniciáticas
perderam muito da sua influência por causa do estabelecimento das liberdades
civis. Mesmo assim, sabe-se que muitos desses movimentos foram pensados e
tramados em núcleos iniciáticos ou pelos seus ex-alunos.
No mundo contemporâneo, com as crises existenciais geradas pelo clima de
incerteza, a escolas iniciáticas ainda sobrevivem e em determinados setores
avançam como alternativa educacional da chamada Nova Era, do III Milênio.
Características mais comuns da educação iniciática:
• Ocultismo, misticismo, mistérios, enigmatismo e simbolismo;
• Busca do conhecimento das relações e inter-relações entre o Homem,
Divindades e a Natureza;
• Diferenciação entre o conhecimento Exotérico e o conhecimento
Esotérico;
• Relação de confiança entre mestre e discípulo;
• Regras disciplinares e de conduta (silêncio, jejum, meditação, olhar,
etc.);
• Progressão gradual dialética em etapas (graus hierárquicos);
• Instrumentos rigorosos de avaliação probatória;
• Diferenciação metodológica entre a pedagogia e a andragogia.
Fazendo uma comparação teórica , enquanto a Pedagogia está voltada para a
educação existencial das crianças a Andragogia volta-se para o
aperfeiçoamento consciencial dos adultos. Para tanto, esta última lança mão de
métodos diferenciados da educação infantil, capazes de amadurecer o
indivíduo biologicamente já desenvolvido, porém emocionalmente imaturo,
através do processo de despertamento. Essa metodologia consiste
basicamente na reversão do conhecimento e do aprofundamento de
experiências, do plano exotérico para a dimensão esotérica. O conhecimento
esotérico está inserido no rol dos principais tipos de conhecimentos
manifestados na experiência humana, a saber: o mágico, o empírico, revelado,
lógico-racional, o experimental, e o intuitivo. O esoterismo enquadra-se,
portanto, na esfera da revelação místico-religiosa, da qual prové m a maioria
dos ensinamentos espiritualistas ministrados pelas escolas iniciáticas
tradicionais e também pelas principais religiões históricas das civilizações.
Lembrando Platão e sua analogia sobre o efeito moral do conhecimento nas
pessoas, a Verdade é como uma luz que ofusca a visão do expectador que se habituou com a escuridão de uma caverna escura. Ele vai se adaptando
gradualmente à medida que faz incursões de olhos vendados até que possa
finalmente encarar a luz sem nenhuma proteção. A venda nos olhos é o
exoterismo; tirar a venda dos olhos é processo de iniciação esotérica.
Todas as religiões e escolas filosóficas espiritualistas, em todas as épocas,
guardam duas formas básicas de expressão social: uma esotérica, voltada para
os setores mais intelectualizados, cuja minoria tende sempre a formar suas
elites, corporativas ou não; e outra exotérica, voltada para as massas, para
cuja maioria limitada intelectualmente assume significados simbólicos e
ritualísticos mais acessíveis ao seu nível de compreensão. Isso significa que as
religiões e filosofias possuem conhecimentos complexos que precisam ser, de
uma forma ou de outra, vulgarizados, quase sempre em forma de dogmas e
sacramentos cerimoniais.
Mas tudo isso só amplia ainda mais o fascínio que o ser humano tem pelo
conhecimento esotérico. Menos palpável e realista do que os conhecimentos
lógico-racional e empírico, ele não fornece provas materiais dos fatos, porém
gera em todos nós uma profunda confiança na imaginação e na capacidade
filosófica de cultivar as possibilidades do desconhecido. A mente humana não
se alimenta apenas de convicções lógico-racionais. Nossa auto-realização
depende do entendimento e da compreensão de muitas outras coisas que
estão fora dessa esfera limitada da cognição racional. Além do pensamento
estão inúmeras outras experiên cias ainda não decifradas e que se escondem
no universo dos nossos sentimentos e emoções. Somente quando estivermos
suficientemente equilibrados nas três áreas vivenciais é que poderemos
conviver com o conhecimento pleno e absoluto das coisas. Por enquanto
teremos que viver na relatividade. Enquanto isso, não há nada de mal
especularmos nesse terreno oculto e atraente do mundo das idéias, da
esorealidade da qual falava Platão.
Artigo Reproduzido com Autorização do Autor

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