sábado, 18 de dezembro de 2010

O PROGRAMA DO SENHOR - IRMÃO X - CHICO XAVIER

A frente da turba faminta, Jesus multiplicou os pães e os peixes, atendendo à necessidade dos circunstantes.



O fenômeno maravilhara.



O povo jazia entre o êxtase e o júbilo intraduzíveis.



Fora quinhoado por um sinal do Céu, maior que os de Moisés e Josué.



Frêmito de admiração e assombro dominava a massa compacta.



Relacionavam-se, ali, pessoas procedentes das regiões mais diversas.



Além dos peregrinos, em grande número, que se adensavam habitualmente em torno do Senhor, buscando consolação e cura, mercadores da Iduméia, negociantes da Síria, soldados romanos e cameleiros do deserto ali se congregavam em multidão, na qual se destacavam as exclamações das mulheres e o choro das criancinhas.



O povo, convenientemente sentado na relva, recebia, com interjeições gratulatórias, o saboroso pão que resultara do milagre sublime.



Água pura em grandes bilhas era servida, após o substancioso repasto, pelas mãos robustas e felizes dos apóstolos.



E Jesus, após renovar as promessas do Reino de Deus, de semblante melancólico e sereno contemplava os seguidores, da eminência do monte.



Semelhava-se, realmente, a um príncipe, materializado, de súbito, na Terra, pela suavidade que lhe transparecia da fronte excelsa, tocada pelo vento que soprava, de leve...



Expressões de júbilo eram ouvidas, aqui e ali.



Não fornecera Ele provas de inexcedível poder? Não era o maior de todos os profetas? Não seria o libertador da raça escolhida?



Recolhiam os discípulos a sobra abundante do inesperado banquete, quando Malebel, espadaúdo assessor da Justiça em Jerusalém, acercou-se do Mestre e clamou para a multidão haver encontrado o restaurador de Israel. Esclareceu que conviria receber-lhe as determinações, desde aquela hora inesquecível, e os ouvintes reergueram-se, à pressa, engrossando fileiras, ao redor do Messias Nazareno.



Jesus, em silêncio, esperou que alguém lhe endereçasse a palavra e, efetivamente, Malebel não se fez rogado.



– Senhor – indagou, exultante –, és, em verdade, o arauto do novo Reino?

– Sim – respondeu o Cristo, sem, titubear.



– Em que alicerces será estabelecida a nova ordem? – prosseguiu o oficial do Sinédrio, dilatando o diálogo.

– Em obrigações de trabalho para todos.



O interlocutor esfregou o sobrecenho com a mão direita, evidentemente inquieto, e continuou:

– Instituir-se-á, porém, uma organização hierárquica?

– Como não? – acentuou o Mestre, sorrindo.



– Qual a função dos melhores?

– Melhorar os piores.



– E a ocupação dos mais inteligentes?

– Instruir os ignorantes.



– Senhor, e os bons? Que farão os homens bons, dentro do novo sistema?

- Ajudarão aos maus, á fim de que estes se façam igualmente bons.



– E o encargo dos ricos?

– Amparar os mais pobres para que também se enriqueçam de recursos e conhecimentos.



– Mestre – tornou Malebel, desapontado –, quem ditará semelhantes normas?

– O amor pelo sacrifício, que florescerá em obras de paz no caminho de todos.



– E quem fiscalizará o funcionamento do novo regime?

– A compreensão da responsabilidade em cada um de nós.



– Senhor, como tudo isto é estranho! – considerou o noviço, alarmado – desejarás dizer que o Reino diferente prescindirá de palácios, exércitos, prisões, impostos e castigos?

– Sim – aclarou Jesus, abertamente –, dispensará tudo isso e reclamará o espírito de renúncia, de serviço, de humildade, de paciência, de fraternidade, de sinceridade e, sobretudo, do amor de que somos credores, uns para com os outros, e a nossa vitória permanecerá muito mais na ação incessante do bem com o desprendimento da posse, na esfera de cada um, que nos próprios fundamentos da Justiça, até agora conhecidos no mundo.



Nesse instante, justamente quando os doentes e os aleijados, os pobres e os aflitos desciam da colina tomados de intenso júbilo, Malebel, o destacado funcionário de Jerusalém, exibindo terrível máscara de sarcasmo na fisionomia dantes respeitosa, voltou as costas ao Senhor, e, acompanhado por algumas centenas de pessoas bem situadas na vida, deu-se pressa em retirar-se, proferindo frases de insulto e zombaria...



O milagre dos pães fora rapidamente esquecido, dando a entender que a memória funciona dificilmente nos estômagos cheios, e, se Jesus não quis perder o contacto com a multidão, naquela hora célebre, foi obrigado a descer também.


pelo Espírito Irmão X - Do livro: Pontos e Contos, Médium: Francisco Cândido Xavier.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe aqui seu comentário! Obrigado por sua participação!

DOUTRINAR E TRANSFORMAR - EMMANUEL - CHICO XAVIER

Meus amigos: Em verdade é preciso doutrinar para esclarecer. Mas é imprescindível, igualmente, transformar para redimir. Doutrinação q...