domingo, 25 de março de 2012

A ARTE DE LIMPAR A JANELA - CHARLES HOGG

Arte de Limpar a Janela

Charles Hogg

Em toda rua há uma Sra. Julgamento e uma Sra. Honestidade. Um dia a Sra.
Honestidade decidiu visitar a Sra. Julgamento. Tão logo a Sra.
Honestidade chegou, a Sra. Julgamento começou a reclamar de seus novos
vizinhos, uma família de estrangeiros.
"Ela é uma dona-de-casa terrível", disse a Sra. Julgamento, "Você
deveria ver o quão sujas são as suas crianças... assim como a sua casa!
É quase uma desgraça estar vivendo na mesma vizinhança. Apenas dê uma
olhada nas roupas que ela pendurou no varal, veja as manchas pretas nos
lençóis e toalhas."

A Sra. Honestidade andou até a janela para ver. "Na realidade as
roupas estão bem limpas, minha querida. As manchas estão na sua
janela!", disse.

Assim como a Sra. Julgamento, quão freqüentemente sou enganado por
minhas próprias janelas sujas ao projetar meus próprios "maus
julgamentos" externamente, completamente convencido de que eu estou
vendo a verdade? A semente original do mau julgamento colore tudo o que
vejo, então, cada interação com meus vizinhos reforça minha atitude. Até
que uma Sra. Honestidade chegue. Somente então vejo mais de perto as
minhas janelas dos olhos. Assim que começo o processo de limpar a
sujeira do lado de fora das minhas janelas, percebo algo interessante.
Há também sujeira por dentro. A sujeira exterior é o produto de
influências, atmosferas, opiniões e atitudes externas. A sujeira interna
é de experiências, percepções e suposições passadas inconscientemente
colorindo a minha visão.

Apenas pare por um minuto e reflita sobre os sentimentos de julgamento e
auto-retidão que surgem em você, assim como em todos nós. Estamos
conscientes de que esses sentimentos nos deixam mais separados, mais
isolados, mais apavorados. Ainda assim, dentro de todos nós, temos a
grande voz do crítico ou do juiz. Todos são testados. Quer verbalizemos
nossos pensamentos de julgamento, quer os mantenhamos para nosso próprio
consumo pessoal, os outros, de fato, sentem seu efeito. Novamente,
reflita sobre o oposto. Lembre-se dos sentimentos de perdão ou
compreensão. Lembre-se de como você deseja ser tratado quando cometeu um
erro. Lembre-se de como você se sentiu quando desprendeu-se do passado
de alguém e ofereceu-lhe um novo começo. Simplesmente imagine a cura nos
relacionamentos se eu tiver a humildade de desprender-me do julgamento.

Minha avó morreu há algum tempo, com 94 anos. Durante toda a sua vida
ela só esteve no hospital por um dia - com 92 anos, para retirar uma
catarata. Ela teve uma vida saudável feliz e era amada por todos.
Durante uma de minhas últimas visitas, percebi que muito do
contentamento visível dela vinha de sua habilidade de sempre
sintonizar-se com o bem nos outros. Eles respondiam a ela com os mesmos
sentimentos. De um modo natural, isso criou uma vida de dar e receber
amor. Parece que pagamos um terrível preço pelos olhos do julgamento e
criticismo. Perdemos amor precioso de outros corações.

Como eu me sinto quando vejo as especialidades dos outros? Sinto-me bem
sobre mim mesmo. Como eu me sinto quando vejo minhas próprias
especialidades? Até melhor. Mas isso é fácil? Participei muitas vezes de
workshops onde foi pedido a todos os participantes que fizessem uma
lista de suas qualidades positivas e também uma lista de fraquezas que
gostariam de mudar. A lista de fraquezas é fácil, mas quando refere-se
aos pontos fortes, quase todos nós achamos difícil escrever pelo menos
alguns. Será que posso dizer que realmente me conheço? Freqüentemente o
que escrevemos são talentos e habilidades, o que faço ou o que aprendi,
ao invés daqueles traços característicos que são únicos a mim.

Como descubro minhas especialidades?
Faça uma experiência. Feche seus olhos e gentilmente vá além de seu
corpo. Agora, através do olho de sua mente, olhe para trás de você
mesmo. Como um observador da pessoa sentada abaixo, o que você vê? Quais
são suas especialidades? Pense profundamente sobre suas motivações
internas, como você trata os outros, as coisas que mais valoriza. Uma
lista de especialidades começará a crescer. Não deixe que seja apenas
uma palavra. Expanda sobre elas de tal forma que a profundidade de suas
especialidades seja revelada.

Algo interessante pode acontecer à medida que você vai evoluindo nesse
processo. Talvez uma pequena culpa ou embaraço entre: "Será que estou
me iludindo? Meu ego tomou conta?". De algum modo, criamos barreiras
internas que não nos permitem desfrutar da auto-apreciação. O bom senso
me diz que se não consigo ver as especialidades em mim, é quase
impossível vê-las nos outros. Minha barreira interna emana de uma
profunda falta de auto-estima que me diz que não tenho valor. Atravessar
essa barreira está no coração do processo espiritual. Assim que me
liberto dessa paralisia interna, minha própria bondade intrínseca
torna-se naturalmente aparente. Não apenas minhas forças tornam-se
aparentes, mas minha visão sobre minhas fraquezas torna-se de compaixão.
Torno-me livre da prisão da desesperança. Eu posso mudar!

Quando tenho falta de amor e respeito por mim, isso manifesta-se
externamente como uma reprovação arrogante das fraquezas e erros dos
outros. Minha própria base de auto-respeito está ancorada nas fraquezas
dos outros. Um amigo meu trabalhava como repórter de notícias de uma das
principais redes de TV em Sidney, Austrália. Ele freqüentemente
admirava-se do porquê de nós corrermos para casa toda noite a fim de
assistir às notícias, que são uma ladainha de negatividade, dor e
tragédia. Pesquisadores mostraram que quando vemos o sofrimento alheio a
partir do conforto de nossas salas de estar, não nos sentimos tão mal
sobre nós mesmos. É inconsciente, mas é uma maneira muito estranha de
nos sentirmos melhores sobre nós.
Quantas filosofias e tecnologias novas aparecem no mercado a cada ano
tentando encorajar líderes e gerentes a melhorar seus jogos? Sinto que a
ferramenta mais poderosa de qualquer líder é uma visão positiva para
com aqueles com quem ele ou ela trabalha. Aqui, visão positiva significa
uma atitude interna de confiança, respeito e reconhecimento das
especialidades dos colegas. Se as pessoas recebem uma mensagem dupla,
isto é, o que elas ouvem é diferente do que sentem, elas sempre
confiarão em seus sentimentos. Em outras palavras, não posso esconder
minha atitude interna. Se carrego criticismo mental daqueles com quem
convivo ou trabalho, não importa o quanto eu os encorajo verbalmente,
eles nunca confiarão em mim completamente. Se vejo as especialidades
daqueles que estão à minha volta, essa é uma forma natural de
potencialização.
No aprendizado da arte de ver as especialidades nos outros, precisamos
aplicar a primeira Lei da Espiritualidade, a qual diz que somos
responsáveis por nossas próprias experiências; se vejo o negativo nos
outros, sinto-me infeliz, se vejo o positivo, sinto-me feliz. Depende de
mim decidir. Para justificar como nos sentimos, nos tornamos altamente
habilidosos na Arte de Reclamar. É uma habilidade que refinamos por um
longo tempo para escapar da nossa consciência. A mídia freqüentemente
parece encorajar essa habilidade ao glorificar inteligência como a
habilidade de analisar as fraquezas nos outros. Com intenção calculada,
o caráter do outro é deixado de lado. Aprendemos essa habilidade e
passamos isso aos outros. A grande ironia de todo o processo é que
torno-me o alvo. Sou profundamente machucado. Esquecemos outra Lei da
Espiritualidade, aquela da causa e efeito. Colherei o fruto de minhas
atitudes. Isso torna até mais importante conscientemente me educar para
ver as especialidades no eu e nos outros.
Freqüentemente é mais difícil ver as especialidades naqueles com quem
estou familiarizado: minha família, amigos e colegas de trabalho. Abaixo
estão alguns exercícios que têm ajudado a me aperfeiçoar na Arte de
Limpar a Janela.

Exercício 1: Inventário de Virtudes

Em meu diário mantenho uma seção onde escrevo os nomes daqueles mais
próximos a mim. Durante um dia de trabalho ou em casa, quando noto uma
especialidade ou aprendo algo de alguém, faço uma nota disso no meu
diário. É como um inventário de suas boas qualidades, e pode me ajudar
numa data futura. Quando me torno influenciado por uma de suas
qualidades negativas, posso então me dirigir ao meu diário e
restabelecer o equilíbrio. Sou relembrado do bem no outro e não
consumido por seu erro ou fraqueza temporária.

Exercício 2: Agir ao Invés de Reagir

Se há uma pessoa que tem certos traços de personalidade que me aborrecem
ou perturbam, torno aquela pessoa meu professor. Por quê? Porque sua
companhia me fará mudar. Ela me fará consciente de minhas próprias
reações negativas. Ela me ensinará a agir e não reagir.

Exercício 3: Editando minha Fita de Memória

Antes de ir para a cama, repasso as atividades do dia no vídeo de minha
mente. Se estou carregando sentimentos negativos sobre alguém, deixe-me
resolvê-los ao perdoar aquela pessoa no meu coração. Eu não apenas apago
os sentimentos negativos, mas edito em algo positivo, então
conscientemente lembro de uma especialidade daquela pessoa, que ficará
gravada em meu subconsciente. Assim, vou dormir e acordo muito mais
leve.

Exercício 4: Vendo as Intenções

Outro método de aprender e manter as especialidades dos outros em minha
mente é ver a intenção e não a ação. Às vezes as pessoas realmente
cometem erros, ou talvez eu desaprove a maneira como elas fazem as
coisas. Se foco na atividade, então ficarei aborrecido. Entretanto, se
vejo um motivo sincero, posso manter uma atitude de amor ou aceitação
que me permitirá resolver desacordos respeitosamente.

Será que esse tipo de pensar é um pouco ingênuo? Será que apenas vejo o
bem e permaneço cego ao negativo? Não, a arte de ver as especialidades
significa ver ambos, o positivo e o negativo, mas então soltar-se do
negativo. Por que eu deveria adicionar à negatividade? Que minha
resposta às fraquezas dos outros seja com compaixão ao invés de raiva ou
ódio.

No caminho do desenvolvimento pessoal e crescimento espiritual, a Arte
de Limpar a Janela é essencial.

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