domingo, 24 de junho de 2012

CHICO XAVIER E A RAINHA SANTA DE PORTUGAL


Em 1977, quando Chico Xavier veio a São Bernardo inaugurar o Centro Espírita Maria João de Deus, tivemos em minha residência uma conversa sobre Santa Isabel, canonizada no século XVII, também reverenciada por Rainha Santa, a benfeitora da Península Ibérica.


Estávamos no mês de junho e o frio já se prenunciava em São Bernardo do Campo, na esteira do Inverno próximo, sempre úmido e nevoento.


Enquanto se tomavam as providências para o caprichado lanche, com a presença obrigatória de nosso saudoso pai, Rolando, ficamos à vontade no escritório, repassando assuntos freqüentes em nossos diálogos.


Em determinado momento, insisti no porquê da grande veneração que ele dedicava a Isabel de Aragão.


Chico falou-me, alegre, expansivo e com grande entusiasmo:


- Caio, suas informações a respeito dos tempos da Rainha Santa ainda são restritas, já que as notícias mais densas estão-lhe chegando ao conhecimento há muito pouco tempo.


Podemos sintetizar seu trabalho apostolar em duas vertentes muito claras: a paz e a caridade. Era, em verdade, a rainha da paz e da dedicação ao semelhante, em palácio ou nas obscuras e tristes habitações medievais, frias e desconfortáveis.


Naqueles tempos, no casamento de reis, era habitual que as futuras rainhas fossem contempladas com generosos dotes, que lhes garantissem polpudas rendas decorrentes de tributos variados em vilas e padroados. E o seu marido, D. Diniz de Portugal e Algarves, não fugindo à regra, cumulou-a de benesses, em várias regiões da Portugal, como, por exemplo, em Leiria.


Eu redargüi:


- Sim, Chico, mas nisso ela foi exatamente igual a outras rainhas...


- Ocorre, meu amigo, que Isabel era diferente. Doava de todas as formas possíveis, o que tinha aos pobres, aos enfermos, às mães anônimas. Isso, por vezes, incomodava, mas não muito, o rei. Veja você o conhecido episódio da transformação dos pães em rosas. A rainha saciava a fome de tanta gente e o rei fechava complacentemente os olhos...


Você, continuou o Chico, não pode imaginar o que significava, no rude inverno, deixar o conforto do palácio real e levar lenitivo aos enfermos.


Numa de suas conhecidas curas, enquanto dedicadas colaboradoras se afastaram da mulher com o pé gangrenado, a santa rainha o beijou, sem repulsa alguma, curando a gangrena.


Seu gênio criador edificou hospitais e sua ligação com Jesus permitiu-lhe curar os doentes do corpo e do espírito, como o fizera Paulo de Tarso em suas viagens de pregação pela Anatólia. Por outro lado, Isabel edificou, para perpetuar a sua fé religiosa, mosteiros em que irmãs abnegadas davam-lhe continuidade à indômita ânsia de ajudar os menos favorecidos.


Meditei sobre as tão carinhosas palavras do Chico e veio-me à mente a imagem do Mosteiro de Santa Clara, que o Rio Mondego tentou sepultar, mas não conseguiu, Lá residem as humílimas irmãs de caridade, com seu comportamento franciscano, as Clarissas, que Isabel levou a Portugal. Isto tudo há mais de seis séculos!


A conversa agradável continuou:


- E quanto à paz? Perguntei como atuou a Rainha Santa. – Ah, o título de Embaixadora da Paz lhe foi concedido por Jesus. Não é tão somente um reconhecimento do mundo.




Mesmo pouco antes de partir para a Pátria Espiritual, em 1336, Isabel enferma, solitária, lutava para que a paz reinasse naquelas terras de tanta turbulência.


Vou contar-lhe com detalhes uma das numerosas conquistas da grande Isabel, no campo da paz, que tranqüilizaram Portugal, Castela e Aragão, esta, sua terra natal, nos longos anos do reinado do esposo, e também nos onze anos seguintes à morte de D. Diniz.


Refiro-me à busca sem tréguas do entendimento entre o esposo D. Diniz e o filho Afonso IV, em período tão triste da história portuguesa.

Justamente quando Chico começava a contar sobre o empenho da santa em longos cinco anos, para apaziguar pai e filho, minha esposa bateu à porta do escritório, dizendo:


- Desculpem-me, mas o “seu” Rolando insiste que venham para o lanche, pois o horário exige, está ficando tarde.


Para chegar ao meu escritório era necessário descer uma pequena escada e lembro-me que o Chico, muito alegre, sorridente, disse-lhe:


- Minha filha, já vamos subir. Estávamos conversando sobre Isabel de Aragão.


Lamentei muito a interrupção, mas, afortunadamente, pouco tempo depois, o papo continuou.


Naquela noite de 16 de junho de 1977, foi inaugurado o Centro Espírita Maria João de Deus com a presença de multidão que se acotovelava para abraçar o Chico. O espaço físico não conseguia abrigar a todos e tanto a Rua Allan Kardec, quanto a Rua Maria João de Deus, que se confluem no portão de entrada do centro, também estavam apinhadas de gente.


São tempos que passam, deixando, em sua esteira, a insistente recordação de momentos que não se apagam da memória.


No próximo dia 8 de julho de 2011, completam-se 84 anos de atividades mediúnicas de Chico Xavier, iniciadas em 8 de julho de 1927. Dois dias depois, a 10 de julho de 1927, Isabel de Aragão visitou-o falando-lhe da missão de divulgar a Doutrina Espírita em língua Portuguesa.



Caio Ramacciotti – COMUNICAÇÃO / GEEM – Ano 44 – nº 192 – Julho a Setembro de 2011.Grupo Espírita Emmanuel - São Bernardo do Campo - São Paulo

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