sexta-feira, 14 de outubro de 2011

OBRA PRIMA DE ARCIMBOLDO: OUTONO


Prefiro passar logo a palavra a Roland Barthes, sem necessidade alguma de explicar meus motivos: “ Arcimboldo não pinta propriamente as coisas, mas sua descrição falada. No universo de Arcimboldo, um traço pode sim equivaler a uma letra. É como um dicionário de imagens. À sua maneira, Arcimboldo é um retórico, uma concha vale por uma orelha – é uma metáfora. Um cardume se transforma na Água, onde vivem os peixes – é uma metonímia. O fogo se transforma em cabeça flamejante – é uma alegoria. Enumerar frutos, pêssegos, peras, cerejas, framboesas e espigas para traduzir o Verão – é uma alusão. Repetir o peixe que aqui vale por um nariz, ali é uma boca, é uma antanaclase (repetição de uma palavra fazendo-a mudar de sentido). Evocar uma coisa através de outra cuja forma seja idêntica (um nariz pelo quadril de um coelho) é fazer uma anominação de imagens”.

Ou, como ele explica: “Arcimboldo trabalha como um operário da língua: com sua imaginação poética, ele não cria significados, mas os combina, os permuta e os desvia”.

Vejam vocês tudo que alguém como Barthes pode depreender de um gênio como Arcimboldo. Para nós, leigos, ele é o pintor das cabeças compostas que, acredito eu, pouquíssima gente ia querer em suas salas: são, no mínimo, desagradáveis ao olhar.

No entanto Arcimboldo era um artista de técnica apuradíssima, cultura refinada e criatividade sempre em ebulição.

Sua “Espineta de Cor”, instrumento musical que tornava as festas mais animadas, ficou muito conhecida e foi copiada em várias cortes da Europa. Ele criou notações musicais onde a cor era um elemento importante.

Arcimboldo tornou-se tão querido nas cortes onde trabalhou que além de pintor dos monarcas, foi nomeado Conde Palatino. A corte em Praga, apesar de católica, era tolerante com outras religiões e crenças, num convívio harmonioso. Arcimboldo não teve que se curvar a regras e ditames da Igreja, como seus contemporâneos Tintoretto e El Greco. Trabalhou sempre com grande independência em relação à Igreja.

Publicado no Blog do Noblat.

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