quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

DESEJO DE CONTROLE E ESPIRITOLOGISTAS

ESPIRITOLOGISTAS E O DESEJO DE CONTROLE

Pare por alguns instantes, respire profundamente e pense nos fatos mais marcantes de sua vida. Desde o momento em que você reencarnou de bebê até os dias de hoje, quantos desafios existenciais se apresentaram a você? Quantas vezes foram necessárias decidir a melhor forma de agir a escolha mais acertada, o caminho mais proveitoso para seguir? Você já se enganou? Fez escolhas conscientes? Teve conquistas? Arrependeu-se? Teve decepções produtivas? Precisou recomeçar?

As emoções estão presentes o tempo todo, principalmente nos momentos mais decisivosda nossa vida. Certamente você passou por momentos de decisão que fizeram uma grande diferença no rumo dado à sua trajetória. Amigos, estudo, relações afetivas, escolha profissional, dinheiro, desenvolvimento de talentos, sexo, influências espirituais, família, saúde, trabalho, autocuidado, espiritualidade. Só você sabe o tom emocional de cada momento vivido, de cada escolha em seu caminho. Algumas decisões podem ter sido fáceis, prazerosas, intuitivas, outras podem ter sido solitárias, difíceis, inseguras.

Como saber qual é o melhor caminho? A melhor escolha? Nem sempre sabemos, não é mesmo? E isso vale para decisões de grande impacto pessoal, como pedir demissão no trabalho, e para os dilemas que se apresentam diariamente, como o menino machucado que te pede dinheiro no semáforo, o vizinho que reclama do encanamento ou a colega
da tarefa assistencial que tem atitudes com as quais você não concorda. Em alguns momentos chegamos a pensar "O que teria sido diferente se eu tivesse permanecido naquela cidade?"; "E se eu tivesse me casado com beltrano em vez de sicrano?"

Não sabemos o que teria sido da vida que não foi vivida, mas, sem dúvida, os dilemas existenciais que nos são apresentados se moldam à nossa necessidade de aprendizado, e assim vamos deparando com as bifurcações no caminho, as curvas, as encruzilhadas, as subidas, as descidas e as saídas evolutivas. Para andar nessa trilha, recebemos o presente divino do livre-arbítrio, experimentamos o sabor e a dor de ser no mundo, de nos responsabilizar por nossas próprias atitudes e escolhas.

Quando o espiritismo entrou em sua jornada nesta existência? Você lembra se, na ocasião havia algum tipo de dilema existencial que você enfrentava?

Cada um tem sua história de aproximação com a doutrina, mas para a maioria de nós é reconfortante começar a compreender que para tudo o que nos acontece existe uma finalidade educativa. Como faz diferença quando entendemos que nossa vida tem um significado fundamental, uma razão existencial evolutiva!

Uma nova realidade se descortina quando entendemos que nossa busca, o que podemos alcançar, nossa meta diante das escolhas existenciais é ser feliz vivificando o verdadeiro homem de bem. Essa descoberta é como uma candeia a iluminar nossos caminhos e, junto com ela, vem a decisão igualmente valiosa de desejar ser, sentir, pensar e agir no bem.

Conforme passamos a compreender melhor assuntos de profundidade espiritual e psicológica, percebemos, ainda que inconscientemente, que a vida nos reserva muitos aprendizados, muitas mudanças, surpresas, novos dilemas, e isso assusta, por vezes nos apavora. "Já passei por tantas coisas, o que será que ainda irá acontecer?"; "Será que estou preparado para os desafios evolutivos que estão por vir?"

Diante do desejo de melhora, da vontade de não mais cometer os mesmos erros, buscamos o conhecimento doutrinário, as tarefas na casa espírita, as atividades de ajuda ao próximo para nos preparar, avançar, praticar o amor.

Entretanto, a maioria de nós, ainda sob o domínio do orgulho, age não apenas pelo desejo de melhora. Outros desejos também se manifestam, ainda que não estejamos atentos para percebê-los. Existe em você, sustentado pelo orgulho,
um desejo excessivo de controlar a vida, manipular o que não está sob seu domínio mudar as pessoas, contornar as circunstâncias conforme seus interesses, ter explicação e certezas para tudo. O desejo de controle emanado pelo orgulho é o oposto da aceitação e da humildade.

O que nos assusta não é apenas o que pode nos acontecer, mas também se seremos capazes de lidar da melhor maneira com os fatos, de fazer as melhores escolhas, de agir no bem. Temos receio das nossas limitações, principalmente porque a dimensão emocional ainda é um universo desconhecido. Somos capazes de agir sem saber ao certo por que tivemos determinada atitude. Sofremos as consequências de saber tão pouco sobre nós mesmos.

Toda decisão é influenciada por sentimentos e emoções, ainda que você não tenha consciência disso. Por essa razão, quanto mais desenvolvida é a inteligência emocional de um espírito, mais ampliada é sua capacidade de ter pleno domínio sobre seu livre-arbítrio Ou seja, quanto mais desenvolvemos nossa capacidade de identificar, conhecer, usar e administrar nossas emoções, maior é a possibilidade de usarmos o livre-arbítrio de maneira realmente consciente. Para "vencer os instintos em favor dos sentimentos, ou seja, aperfeiçoar a estes", como diz O evangelho segundo o espiritismo, capítulo xi - "Alei de amor" é necessário estar disposto a desenvolver habilidades emocionais, cultivar o campo das emoções, vibrar no desejo de melhora.

Entretanto, tomados pelo orgulho, muitas vezes tentamos burlar esse processo e chegamos até a fingir que somos senhores de nossas escolhas, que nada nos abala porque somos dotados de cabedal espiritual. Felizmente, a vida sempre traz os aprendizados necessários e novos dilemas aparecem, novas emoções até então escondidas ganham forma: uma promoção para um cargo de chefia no trabalho que te coloca diante do poder; um nódulo que aparece no corpo e te coloca diante do medo de estar com uma doença grave; um filho que insiste em brincar de cozinha e te coloca diante do preconceito; um parente que desencarna e te coloca diante da dor da perda. Apesar de tudo o que você sabe, uma vizinha que compra um carro novo e te coloca diante da inveja; um tio solteiro que é levado para uma casa de saúde e te coloca diante da solidão; um filme de sábado à noite que te coloca diante de sua carência. Enfim, somos colocados diante dos nossos próprios sentimentos constantemente. Mas o que temos feito com isso diante da nossa necessidade de reforma íntima? Estamos trabalhando esses sentimentos ou fingindo que eles não existem?

Quem foge do que sente inevitavelmente busca controlar com mais força a vida. Se eu não tenho domínio, se eu não conheço, se sou dominado por aquilo que trago por dentro, tento controlar o que se apresenta para mim por fora.

A Oração da Serenidade, difundida pelos Alcoólicos Anônimos, trata da sabedoria necessária para distinguir os dois desejos, de melhora e de controle:

Concedei-me, Senhor, a serenidade necessária para aceitar as coisas que não posso modificar, coragem para modificar aquelas que posso e sabedoria para distinguir umas das outras.

Para cada pessoa e grupo o desejo de controle pode adquirir formas específicas de manifestação. Iremos, porém analisar uma manifestação bastante comum entre nós espíritas.

Buscar conhecimento de profundidade espiritual e psicológica é algo muito importante para nós espíritas. Valorizamos uma palestra edificante, um livro consolador, um grupo de estudos esclarecedor. Muitos de nós nos lembramos com detalhes de livros que mudaram totalmente nossa vida; sabemos que os livros podem cumprir um papel verdadeiramente terapêutico. Nesses momentos, fica clara a busca pelo estudo, pelo conhecimento, movidos pelo desejo de evoluir. Nós sabemos que a palavra edifica, transforma, amplia nossas percepções. Sabemos o quanto a palavra comprometida com o bem pode iluminar nossa vida.

Mas você já parou para pensar que também podemos buscar conhecimento, ainda que seja doutrinário, movidos pelo orgulho?

Por mais estranho que possa parecer, é necessário que você saiba o quanto o orgulho atrelado à busca pelo conhecimento é frequente em nossa vida. Um sintoma disso é o conflito comum entre companheiros dedicados de doutrina em se perceberem muito instruídos no que diz respeito a assuntos espirituais e pouco transformados comparativamente no aspecto moral.

Uma das razões dessa sensação ser frequente entre nós é justamente o fato de nem sempre comprometermos a busca pelo conhecimento espiritual com o descobrimento pessoal. Muitas vezes buscamos conhecimento para sermos capazes de controlar nossas angústias com explicações sobre múltiplos aspectos da vida espiritual. Diante dos medos, das incertezas, das preocupações, dos preconceitos, das perdas, dos anseios fechamos os olhos para nossas dicas emocionais e usamos o conhecimento para tentar explicar, apenas por fora, o que precisamos também transformar por dentro.

Em vez de usar o conhecimento para nos transformar em "desbravadores de nós mesmos", corremos o risco constantemente de nos tornarmos especialistas em assuntos de cunho espiritual: espiritologistas. O orgulho ainda nos leva a ter certeza de que o muito que sabemos intelectualmente representa quem somos, nossa condição evolutiva.

Somente você saberá identificar em que momento sua busca pelo conhecimento está movida pelo desejo de melhora ou de controle, mas, caso você esteja em dúvida, analise o quanto você sabe acerca de si mesmo em relação a um tema específico. Por exemplo, sobre a caridade. O quanto você sabe sobre a importância da caridade? O que é caridade? Quais os livros que falam sobre a caridade? O que os autores espirituais dizem sobre o tema? Agora analise o quanto você conhece a manifestação da caridade em você, como está a expressão dela em sua vida, quais os fatos que costumam mobilizar sua compaixão para atitudes caridosas, quais são as manifestações da caridade mais difíceis de ser vivenciadas por você.

Veja que pode haver um descompasso entre o que sabemos sobre um tema e o que sabemos sobre nós mesmos à luz desse tema, à luz do espiritismo. Por isso é tão essencial ficarmos atentos ao espiritologista que carregamos em nós.

Capítulo retirado do livro RECICLANDO A MALEDICÊNCIA - educação
emocional para a promoção do bem-dizer, escrito por Bianca Ganuza.

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