domingo, 12 de agosto de 2012

AS DUAS FACES

Afirma-se que um famoso pintor do Renascimento, quando pintava um quadro sobre o menino Jesus e Judas, após conceber a tela e fazer os primeiros estudos, procurou uma criança que lhe servisse de modelo para a face do Mestre, na infância.

Após procurá-la em muitos lugares, fortuitamente encontrou um pequeno sujo que brincava nas ruas, porém retratava no olhar e na face toda a pureza, bondade, beleza e ternura que se podia conceber.

Explicando-lhe o que desejava, e ante a anuência da família, o pintor levou-o a posar no seu atelier, retribuindo-lhe o trabalho com expressiva soma em moedas de ouro.

Concluída a primeira etapa, o artista pôs-se a buscar alguém que lhe pudesse oferecer o rosto de Judas.

Em mercados e praças públicas, tavernas e antros de costumes perniciosos por onde esteve à procura, não encontrou ninguém que se assemelhasse, em aparência, ao discípulo equivocado.

Já desanimava de o encontrar, deixando a tela inacabada, quando, em visita a uma tasca de má qualidade, se deparou com um delinquente e ébrio, em cujo olhar e semblante se encontravam os conflitos do traidor, conforme a concepção que dele fazia.

A barba hirsuta, a cabeleira mal cuidada, eram a moldura para o olhar inquieto, desconfiado, num rosto contorcido pelo desconforto íntimo, formando um conjunto de dor e revolta, insegurança e arrependimento ímpares.

Comovido com o fato, o artista convidou o bandido para posar, o qual anuiu sob a condição de régio pagamento.

O pintor começou a obra e percebeu, ao fim de algumas sessões, que a face congestionada do modelo se modifica a cada dia, perdendo a agressividade e a perturbação.

Indagado a respeito, aquele explicou:

– Posando, nesta sala, recordo-me de outras sessões, quando servi ao senhor de modelo para a face do Menino Jesus...

E prosseguiu, ante o artista vivamente impressionado:

– Eu sou aquele em cujo rosto o senhor encontrou a paz e a beleza do justo traído... O dinheiro que ganhei, em face da minha imaturidade, mais tarde pôs-me a perder e, de queda em queda, numa noite em que me embriagara, por uma disputa insignificante matei outro homem. Condenado, num julgamento arbitrário, envenenei-me de ódio...

"Recordando-me daquele tempo, retorno, emocionalmente, a ele e me acalmo..."

Paradoxalmente, o mesmo indivíduo ficou retratado na face de Jesus Menino e de Judas, em duas fases diferentes da mesma vida.

*

Nem sempre a pobreza é provação dolorosa.

No conforto e na fortuna podem desenvolver-se os germes do crime e da ruína, quando não se têm fortalecidos os valores morais para se enfrentar as ocorrências.

O dinheiro, por isso, não é responsável pelo bem ou pelo mal, sendo veículo para uma outra ação, conforme se faz dirigido.

As resistências morais, geradoras das virtudes, desabrocham em qualquer campo, malgrado o homem se encontre na riqueza ou no desconforto econômico e moral, devendo ser cultivadas para que os sentimentos superiores predominem e estruturem a personalidade.

*

Aprende a conviver e a dirigir a vida com pouco, a fim de treinares a condução dos haveres, quando te cheguem.

Exerce a generosidade, em qualquer situação, de modo a vencer a avareza e o instinto de posse, ante os recursos transitórios do mundo.

Chamado a qualquer posição, na abastança ou na escassez, mantém a face do equilíbrio, que seja consequência da tua paz de espírito, devendo prosseguir inalterada.



Joanna de Ângelis



Milão, Itália, 12.11.1983.



Mensagem do livro Seara do Bem, psicografado pelo médium de Divaldo P. Franco (Diversos Espíritos).

Vive de tal forma que deixes pegadas luminosas no caminho percorrido, como estrelas apontando o rumo da felicidade e não deixes ninguém afastar-se de ti sem que leve um traço de bondade, ou um sinal de paz da tua vida.

Joanna de Ângelis

Enviado pela amiga Lucia Basto. Grato!

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