quarta-feira, 28 de setembro de 2011

KARDEC E AS CATEGORIAS DOS ESPÍRITAS

Kardec e as Categorias Espíritas

Autor: Allan Kardec

Não sois mais principiantes em Espiritismo. Assim, hoje deixarei de lado
os detalhes práticos sobre os quais, devo reconhecer, estais
suficientemente esclarecidos, para considerar a questão sob um aspecto
mais largo, sobretudo em suas conseqüências. Este lado da questão é
grave, o mais grave incontesta-velmente, pois que mostra o objeto para
onde se inclina a Doutrina e os meios para atingi-lo. Serei um pouco
longo, talvez, pois o assunto é muito vasto e, contudo, restaria ainda
muito a dizer para o completar. Assim, reclamarei vossa indulgência
considerando que, não podendo ficar convosco senão por algum tempo, sou
forçado a dizer de uma só vez o que, em outras circunstâncias, eu teria
dividido em várias partes.



Antes de abordar o ângulo principal do assunto, creio dever examiná-lo
de um ponto de vista que, de certo modo, me é pessoal. Todavia, se não
se tratasse senão de uma questão individual, seguramente com ela eu não
me ocuparia; porém, ela se liga a várias questões gerais, podendo
resultar instruções para todo mundo. Foi esse o motivo que me levou a
aproveitar esta ocasião para explicar a causa de certos antagonismos que
muita gente se admira de encontrar em meu caminho.



No estado atual das coisas aqui na Terra, qual é o homem que não tem
inimigos? Para não os ter, fora preciso não estar na Terra, por ser esta
a conseqüência da inferioridade relativa de nosso globo e de sua
destinação como mundo de expiação. Para isso, bastaria fazer o bem? Oh!
Não; o Cristo não está aí para o provar? Se, pois, o Cristo, a bondade
por excelência, foi alvo de tudo quanto a maldade pôde imaginar, por que
nos admirarmos de que assim suceda com aqueles que valem cem vezes
menos?



O homem que pratica o bem - isto dito em tese geral - deve, pois,
esperar contar com a ingratidão, ter contra ele aqueles que, não o
praticando, são ciumentos da estima concedida aos que o praticam. Os
primeiros, não se sentindo fortalecidos para se elevarem, procuram
rebaixar os outros ao seu nível, pondo em xeque, pela maledicência ou
pela calúnia, aqueles que os ofuscam.



Ouve-se constantemente dizer que a ingratidão com que somos pagos
endurece o coração e nos torna egoístas; falar assim é provar que se tem
o coração fácil de ser endurecido, porquanto esse temor não poderia
deter o homem verdadeiramente bom. O reconhecimento já é uma remuneração
do bem que se faz; praticá-lo tendo em vista esta remuneração, é fazê-lo
por interesse. E depois, quem sabe se aquele a quem se faz um favor, e
do qual nada se espera, não será levado a melhores sentimentos por um
reto proceder? É talvez um meio de levá-lo a refletir, de abrandar sua
alma, de salvá-lo! Esta esperança é uma nobre ambição; se nos
decepcionamos, não teremos realizado o que nos cabia realizar.



Entretanto, não se deve crer que um benefício que permanece estéril na
Terra seja sempre improdutivo; muitas vezes é um grão semeado que só
germina na vida futura do beneficiado. Várias vezes já observamos
Espíritos, ingratos como homens, serem tocados, como Espíritos, pelo bem
que lhes haviam feito, e essa lembrança, despertando neles bons
pensamentos, facilita-lhes o caminho do bem e do arrependimento,
contribuindo para abreviar-lhes os sofrimentos. Só o Espiritismo poderia
revelar este resultado da beneficência; só a ele estava dado, pelas
comunicações de além túmulo, mostrar o lado caridoso desta máxima: Um
benefício jamais é perdido, em lugar do sentido egoísta que lhe
atribuem. Mas, voltemos ao que nos concerne.



Pondo de lado qualquer questão pessoal, tenho adversários naturais nos
inimigos do Espiritismo. Não penseis que me lastime: longe disto! Quanto
maior é a animosidade deles, tanto mais ela comprova a importância que a
Doutrina assume aos seus olhos; se fosse uma coisa sem conseqüência, uma
dessas utopias que já nascem inviáveis, não lhe prestariam atenção, nem
a mim. Não vedes escritos muito mais hostis que os meus quanto aos
preconceitos, e nos quais as expressões não são mais moderadas do que a
ousadia dos pensamentos, sem que, no entanto, digam uma única palavra?
Dar-se-ia o mesmo com as doutrinas que procuro difundir, se
permanecessem restritas às folhas de um livro. Mas, o que pode parecer
mais surpreendente, é que eu tenha adversários, mesmo entre os adeptos
do Espiritismo. Ora, é aqui que uma explicação se faz necessária.



Entre os que adotam as idéias espíritas, há, como bem sabeis, três
categorias bem distintas:



1. Os que crêem pura e simplesmente nos fenômenos das manifestações, mas
que não lhes deduzem nenhuma conseqüência moral;



2. Os que vêem o lado moral, mas o aplicam aos outros e não a si
próprios;



3. Os que aceitam para si mesmos todas as conseqüências da Doutrina, e
que praticam ou se esforçam por praticar a sua moral.



Estes, vós bem o sabeis, são os verdadeiros espíritas, os espíritas
cristãos. Esta distinção é importante, porque explica bem as anomalias
aparentes. Sem isso seria difícil compreender-se a conduta de certas
pessoas. Ora, o que reza esta moral? Amai-vos uns aos outros; perdoai
aos vossos inimigos; retribuí o mal com o bem; não tenhais ódio, nem
rancor, nem animosidade, nem inveja, nem ciúme; sede severos para
convosco mesmos e indulgentes para com os outros. Tais devem ser os
sentimentos de um verdadeiro espírita, daquele que vê o fundo e não a
forma, que põe o Espírito acima da matéria; este pode ter inimigos, mas
não é inimigo de ninguém, pois não deseja o mal a ninguém e, com mais
forte razão, não procura fazer o mal a quem quer que seja.



Como vedes, senhores, este é um princípio geral, do qual todo mundo pode
tirar proveito. Se, pois, tenho inimigos, não podem ser contados entre
os espíritas desta categoria, porque, admitindo-se que tivessem
legítimos motivos de queixa contra mim, o que me esforço por evitar,
isto não seria motivo para me odiarem, considerando-se que não fiz mal a
ninguém. O Espiritismo tem por divisa: Fora da caridade não há salvação,
o que significa dizer: Fora da caridade não há verdadeiros espíritas.
Concito-vos a inscrever, doravante, esta dupla máxima em vossa bandeira,
porque ela resume ao mesmo tempo a finalidade do Espiritismo e o dever
que ele impõe.



Texto extraído do Discurso pronunciado nas Reuniões Gerais dos Espíritas
de Lyon e Bordeaux, do livro Viagem Espírita em 1862 e outras viagens de
Kardec, de Allan Kardec, FEB, 2005.

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