Cenas de meu passado, vivido e sofrido na Drogaria Oswaldo Cruz. Nosso pai Aldo, sempre caladão, abusado, deficiente visual, controlava com mão de ferro as rédeas da farmácia.
Lembro-me com tristeza e com sentimentos de inferioridade, quando eu trabalhava na farmácia e ficava no pacote, que era o local onde embalávamos os medicamentos e produtos que os clientes compravam em nossa farmácia.
Tem uma coisa que não me sai da mente: Eu estava no pacote, e o João Carlos, filho do seu Paiva, sócio do meu pai na drogaria, todo metido, sentado no birô principal, telefonando como o manda-chuva de tudo, e eu, me sentindo a pior pessoa do mundo, fazendo os pacotes. Que raiva me dava, eu trabalhando, e o João Carlos luxando! Que sensação ruim, de inferioridade. Isto mexeu muito comigo, até hoje mexe. Interessante como certas coisas ficam em nosso subconsciente!
E o meu pai gritando: Pacote!!!
Ele não enxergava bem, e não via que eu já estava lá fazendo o bendito pacote! Poxa vida!
Neste local, tinha um display com três rolos de papel de embrulho: Um pequeno, outro médio e um grande. Todos com papéis que tinham a logomarca da farmácia.
Ao lado, o dislay com a fita durex. As vezes, tínhamos que usar barbante, para os pacotes maiores. Tinha uma tesoura para cortar os barbantes. Em um móvel, ficavam os pregos onde colocávamos as segundas vias das notas de balcão dos vendedores, para conferência no final do dia das vendas de cada vendedor.
Neste ambiente, ficavam caixas com alguns medicamentos em envelopes, para venda em retalho. Lembro-me do Tetrex de 250mg e 500mg, do Uropol, e de outras medicações.
Tínhamos dois ou três vendedores. Lembro-me dos mais antigos, o Cícero, que era canhoto, e escrevia as notas de balcão com uma rapidez que eu sempre me surpreendia, a Mirian, que tinha as unhas pretas, sujas, e eu não gostava dela, achava ela estranha, e ela era homossexual! Também trabalhou na farmácia o nosso primo Nélson Passos, o Pedro Paes, este mais recente. Vendedores que trabalhavam com carteira assinada, FGTS, férias, comissões, tudo dentro da lei trabalhista, com a retidão que papai sempre trabalhou!
Dos filhos de papai, eu passava mais tempo na farmácia. Trabalhava todos os dias, de segunda a sábado, e depois das aulas, lá ia eu para o batente.
Quando eu cursava o segundo ano científico, no Colégio Marista, eu almoçava em uma lanchonete perto da farmácia, e todos os dias eu comia cachorro-quente de carne moída e caldo de cana. Todo dia!
Não sei como não fiquei com trauma de caldo de cana!
Blog de Eugenio Leite Costa Mélo. "Conhecereis a verdade, e a verdade vos fará livres" - JESUS
segunda-feira, 26 de julho de 2010
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